3º Artigo Opinião - Dia Mundial do Gato

Gato-bravo: o 'primo' selvagem do nosso tão familiar gato doméstico

O gato-bravo (Felis silvestris) é um carnívoro de médio porte pertencente à família dos Felídeos, sendo mais corpulento e robusto que o gato doméstico. Habita zonas de baixa densidade humana e com pouca perturbação, privilegiando habitats extensos e abundantes nas suas presas de eleição, lagomorfos e roedores. Tendo sofrido um declínio populacional acentuado e progressivo ao longo das últimas décadas em território nacional, está hoje confinado às zonas fronteiriças e a pequenos núcleos populacionais isolados, dos quais pouco se conhece.

Bem longe das nossas habitações e da dependência do Homem, existe um felino belo e imponente que se esconde dos nossos olhares: o gato-bravo. São poucos os que já tiveram a sorte de poder dizer que estiveram perante esta espécie. Símbolo dos territórios mais selvagens e inóspitos de Portugal Continental, o gato-bravo sobrevive em zonas de baixa densidade humana, onde a perturbação é residual. Outrora ocorrendo de forma mais consistente ao longo do território nacional, a presença desta espécie sofreu uma forte retração ao longo do último século, particularmente na faixa litoral.

Hoje em dia, resiste sobretudo ao longo da fronteira, nomeadamente no Parque Nacional da Peneda-Gerês, no Parque Natural de Montesinho, Tejo Internacional e Vale do Guadiana. Outras populações mais localizadas e isoladas são conhecidas, mas pouco se sabe sobre elas, e os poucos avistamentos recentes não são animadores. Aos poucos registos e observações existentes junta-se o caráter extremamente furtivo desta espécie, que evita ao máximo o contacto com o Homem, e que lhe dificulta a atribuição de um estatuto de conservação e tendência populacional. Para além da recolha de indícios indiretos de presença, a utilização de fotoarmadilhagem acaba por se revelar a melhor solução para confirmar a ocorrência do gato-bravo. Este método recorre a câmaras fotográficas dotadas de sensor de movimento, fotografando ou filmando perante qualquer movimento no raio de ação do sensor.

O gato-bravo privilegia habitats extensos e abundantes nas suas presas de eleição, mostrando alguma preferência por territórios com mosaicos de paisagem mistos, compostos por bosques de folhosas ou coníferas, matos e clareiras ou pastagens, onde caça. Lagomorfos como o coelho-bravo, bem como variadas espécies de roedores, são as suas presas prediletas. Não descarta, no entanto, aves, bem como mais raramente répteis e anfíbios.

Semelhante a um gato doméstico, mas de porte mais corpulento, o gato-bravo apresenta uma pelagem densa e riscada, onde dominam os tons cinzentos e acastanhados. O seu focinho é curto e a cabeça volumosa e arredondada, onde sobressaem os seus olhos grandes e de cor geralmente esverdeada. O seu padrão listrado, com riscas escuras, culmina numa cauda grossa, de pelagem densa e arredondada na ponta, onde se identificam entre três a cinco anéis negros e bem definidos, sendo esta uma das características que permitem equacionar um indivíduo desta espécie. Apesar da existência de algumas destas características-chave, a distinção entre um gato-bravo e um gato doméstico pode ser complexa, sendo muitas vezes a análise genética o único meio para ser assegurada com confiança.

De entre as principais ameaças identificadas à conservação desta espécie estão a perda e fragmentação do seu habitat, a morte por atropelamento, o controlo de predadores através de métodos ilegais como armadilhas e envenenamento, bem como a poluição genética causada pela hibridização com gatos domésticos assilvestrados.

Manuel Malva
Biólogo

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